quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Lorotas do Valdemar - O Tombo do perau


Valdemar - Não é lorota: é versão dos fatos

Semana passada descansou um velho e querido amigo: O Valdemar. Companheiro de pescarias, de finais de tarde no trabalho e sobretudo, de causos. Eram causos do cotidiano, contados com alguns enfeites metafóricos e quase sempre hilários, que algumas pessoas inescrupulosas denominavam como mentiras, o que em absoluto não eram. Justiça se faça, mas mentira é uma cois feia, pegajosa e infame. o que Valdemar contava era apenas a sua versão de fatos que com certeza tinham acontecido, em algum lugar, com alguma pessoa, mesmo que esses lugares e pessoas tenham sido apenas em sua prolífica memória e invejável capacidade de finalizar versões e, por que não dizer, algumas inocentes lorotas.
Para evitar especulações, não vou mencionar o sobrenome do imaginativo personagem que com toda certeza existiu e quem o conheceu, vai saber de quem se trata. Do Valdemar.
Nesse blog, vou tentar lembra de alguns dos causos que ouvi pessoalmente o Valdemar contar. Outros, com certeza serei auxiliado pelo testemunho de outros que outras fantabulosas aventuras ouviram o mestre das pescarias contar.

LOROTA UM
O tombo dum perau

Perau, precipício, penhasco, são sinônimos de um acidente geográfico de grandes proporções, de grande altura. Em Gramado é conhecido como Perau mesmo. Lá tem muitos, especialmente na região que divisa com Caxias do Sul e Nova Petrópolis. Uma destas localidades se chama Linha Furna. Ao lado, tem a Linha Quinze, e depois disso, não necessariamente nessa orgem cartográfica, há um vale cortado pelo Rio Santa Cruz, que estabelece a divisa de Gramado com Caxias do Sul.
Este é na maioria das vezes o cenários das lorotas do Valdemar.

Descendente de italianos e tendo quase sempre vivido no interior, Valdemar carregava no sotaque italiano, uma mescla de vêneto com italiano e português antigo. Essa mistura tornava ainda mais interessantes suas narrativas, que ele vivenciava até à alma cada uma delas. Chegava às raias da emoção, porque o principal personagem era geralmente o próprio. E quase sempre, havia testemunhas oculares: falecido fulano, falecido beltrano e falecido cicrano.

Trabalhávamos num porão, a seção de escultura da fábrica, e havia nesse porão, cuja casa estava construída num declive de terreno, uma janela, que dava para o jardim de uma casa, onde Valdemar exercia a função de jardineiro, mordomo e por vezes, administrador de paisagismo.
Nosso horário de trabalho encerrava às dezoito horas, mas lá pelas  quatro da tarde, estava ele debruçado na janela ( de fora para dentro), "queimando campo" (expressão utilizada para expressar alguém contando mentiras), e tínhamos que "abrir as portas para deixar sair a fumaceira" exalada pelas bravatas do colega.
Mas não posso classificar como mentiras, porque não eram. Mentira  é uma coisa feita, grotesca, malfazeja. Valdemar não mentia. Contava sua própria versão fantasiosa dos fatos. Trocava os personagens, mas detalhava com exatidão datas e lugares. E não raro, pessoas.
Era um companheiro agradável em pescaria. E como não seria? Tem coisa mais enfadonha do que uma pescaria sem um hábil contador de causos? E tem o pós-pescaria, que é exatamente quando todos ávidos por umas boas risadas, se enfileiravam à volta do bule de café da tarde num gazebo da fábrica onde nos reuníamos, para tentar contar nossas próprias lorotas ou debochar de algum novato ou incauto colega. Mas reconhecidamente e com justiça nos calávamos quando era a vez do Valdemar.
Valdemar se calou, mas vou tentar resgatar suas lorotas. Muitas lembro eu mesmo, porque presenciei ou foram contadas a mim. Outras, vou buscar com amigos ( e amigos não lhe faltavam) que conheciam outras versões das mesmas histórias ornamentadas pela ingênua esperteza do nosso amigo Valdemar.

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