domingo, 13 de março de 2011

O Alter Ego Míope


O ALTEREGO MÍOPE


O ALTER EGO MÍOPE
Pacard

Ninguém me entende. Eu menos ainda. Faço o que posso, mas nem sempre posso fazer. Aí compro feito. Mas sabe como é. Os tempos andam bicudos e a qualidade já não é mais a mesma. Nem poderia, pois nunca houve qualidade. Não, em se tratando de qualificações pertinentes ao que se faz. E vamos combinar que o que é bom já nasce feito. Ou não.

Ja tentei me entender uma vez. aí introspectei o meu eu tão profundamente, que o ID e o EGO desataram a chorar e se agarraram nas pernas do SUPEREGO implorando que eu voltasse de minha introspecção. Aí decobri que eu posso não ser eu de verdade, mas meu irmão gemeo que nao prosperou na fecundação. Culpa de quem? De ninguém, pois o meu ALTEREGO, coitado, é míope. E gago.  Seria  pouco, se não fosse também manco e neurótico, o pobre. Bom sujeito ele, mesmo que surdo e cego. Ah se ele não fosse mudo, quanta coisa pra dizer. Mas, paciencia.
entende?
Daí...
Entrei pra uma seita. Seita Xek, filiada à Seita Vale Refeição, e fiz meditação acidental. Era ocidental e incidental..bem, tinha de tudo um pouco, até um toque transcedental. Pelo menos era o que garantia o rótulo. Bem ,não se pode confiar cem por cento no que dizem os rótulos, pois certa ocasião tomei óleo de ricino na certeza que bebia um Conde de Rochefocault 1953. Vovó tinha essas coisas, de querer aproveitar tudo pra guardar as coisas. Bobo eu, que de preguiça de ir até à adega buscar uma garrafa, entrei na despensa. Mas podia ser pior. Podia. Felizmente o veneno de ratos estava bem guardado no açucareiro do vovô.~
Fui muito invejado quando pequeno. Hoje não sou mais. Bem, um pouco, pelo meu alfaiate. Hoje acho que não me invejam mais. Bem, um pouco, acho que o alfaiate ainda tem um pouquinho de inveja. Inveja santa, diga-se de passagem. Passagem só de ida, pois a volta está lotada. Eu tinha dois bilhetes comigo, que poderiam garantir dois lugares nos bancos da frente, perto da janelinha. E é isso que me faz ter raiva de aeromoças, hoje comissarias de bordo: recusaram meus bilhetes. E eram bilhetinhos tão bem escritos, cm caligrafia desenhada e emoldurados por uma fita azul. Droga. Ninguém me entende mesmo. Ninguém. Exceto meu alfaiate. Manco e gago. Porém vesgo e com mau hálito.

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