domingo, 6 de fevereiro de 2011

Da Astrolojia à Pecicolojia


Da Astrolojia à Pecicolojia

Carsulina era crente. Cria em tudo. Mas ao mesmo tempo, desconfiava de tudo também. Homem na lua? Ouviu falar e não duvidava. Mas não do jeito que contavam. Foguete nada. Viagem decente tinha que ser em lombo de mula pra não arriar no meio do caminho. Daí, em sua imaginação,tinham achado um jeito de apinchar uma mula com gente montada numa hora em que a lua estivesse bem perto da terra, lá na linha do horizonte. Era um "upa" e estavam na lua. E pra voltar, a mesma coisa: enchia os jacás com queijo no rancho do são jorge. Tomavam umas cuias de mate e uma costela de dragão na brasa, e depois voltavam. Era simples. Cousa corriqueira. Era desse jeito que Carsulina explicava as coisas difíceis ao povo simplório do Cêrro do Bassorão.
Horóscopo. Esse era ainda mais fácil de explicar, pois já que achava tudo um amontoado de bobajada mesmo, Carsulina criou um jeito de formular seus próprios signos. Por exemplo: Touro, não era mais touro, pois por ser um aminal veiáco e pulador de cercas, foi capado e tornou-se boi. Manso e gordo. Dominava o pasto, mas era bom pra puxar carroça. Então, um bicho assim tão sem vontade, embora forte, como poderia orientar os destinos das pessoas nascidas sob o mesmo curral e na data que comemorava exatamente sua capação?
Da mesma forma, era com Áries. O nome era pomposo, mas o bicho, francamente, não passava de um bode. E todo bode fede. Daí Carsulina estabeleceu que todo fedorento, mesmo que nascido em outra data do calendário astral, ao qual chamava de "oroscopista", estava sob a regencia do bode, e como tal, ainda sujeito a outros atributos do bicho, que não convém comentar aqui, porque este causo também pode ser lido por menores.
Câncer. O nome feio Carsulina trocou por "Churrio". Que dava no mesmo, pois em anos passados, churrio matava mais do que infarto ou câncer mesmo. Então pressupunha cousa cabulosa, pessoa de genio empertigado e que carecia de observância permanente.
Sagitário, era o mais divertido. Recebeu a alcunha de "Pocotó". Carsulina achava muito simpático aquele arqueiro metade homem, metade cavalo e metade outra coisa qualquer que não convém nominar.
Peixes, lá no Bassorão era "Lambari". O bão era comê-los fritos, bem torradinhos, com pão de mío.
Libra, Carsulina ensinava que era uma balancinha de medir a verdade, e era frequente pegar algum mentiroso contando lorota dizendo que era do signo da "balancinha de pegá veiáco". O sujeito perdia o rumo do que estava mentindo e logo travava.
Desta forma, Carsulina quebrou o costume do povo não dar um peido sem consultar os presságios, e ainda dar umas boas risadas quando surgia uma adversidade. Carsulina ensinou às pessoas que existem certas regras de bons procedimentos que devem nortear nossas ações, mas que não determinam nossos passos que são apenas nossos, e quem nenhuma estrela que desaparece atrás da primeira nuvem, será capaz de dizer que o sujeito é bom, mau, covarde, valente, altruita ou de outro jeito qualquer. Era uma velhota rude, mas não era ignorante. Usava a "pecicolojia" para endereitar de um modo divertido e maroto, o caráter de seus afilhados. E ainda dava boas risadas, pois era esse seu jeito de driblar infortunios.

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